Hoje no
Humans of New York, a afirmação deste homem relembrou-me algo que penso por aqui vezes e vezes sem conta.
“I’ve written so many stories and novellas that nobody will look at, plays that I can’t get produced, screenplays that will never be made. Everything is so branded these days in the art world, it’s so hard for an outsider to get work.”
“In what way would you consider yourself an ‘outsider?’”
“I’m interested in failure, so those are the themes that I like to explore. But we live in a society that celebrates triumphalism. A society wants art that reaffirms itself. We want to read about characters that win.”
“What was your lowest moment as an artist?”
“I worked on a screenplay for two years, and it had just been turned down by the fifth theater in a month, and I remember walking down 5th avenue in the middle of winter, tossing the pages one by one into the slush, vowing never to do it again. It was just a few blocks from here, actually.”
E é isso, também aqui pelos lados da internet se vive o mesmo que nas artes.
Há os extremos, a internet que parece que só celebra o lado bom e bonito da vida, desde as fotografias bonitas, às frases inspiradoras, aos posts sobre mudança de vida, ao exercício físico, casas e roupas bonitas, viagens pelo mundo, etc, etc. Por outro lado temos a internet que se dedica ao escárnio e mal dizer, que é o oposto desta, mas nem por isso mais verdadeira.
E a falha? E os projectos que nunca saem da gaveta? E as tentativas sucessivas sem qualquer sucesso? E os corpos imperfeitos? E a roupa velha e sem graça? E a cara de quem apanhou um murro logo pela manhã? E os amores que nunca venceram? E o desemprego? E as traições? E as desilusões? Ninguém usa? Ninguém tem? Ninguém vive? Ninguém falha?
Eu falho, porque muitas vezes quando sinto que estou num desses momentos, fecho-me e não digo nada, ou o que digo nada quer dizer. O que interessa ao mundo o nosso falhanço se não houver um final feliz? Se não houver uma motivação boa, um encorajamento ao começar de novo, ao fazer e acontecer? Se calhar não interessa nada e as 'massas' não querem ler blogs deprimentes, isentos de glamour e de detalhes fofos.
Eu abro o meu instagram e só vejo coisas fixes. Mesmo! Desde fotografias bonitas, trabalho artístico, a viagens pelo mundo, selfies bem dispostas, roupas novas, frases encorajadoras, comida saudável, famílias felizes. Eu também gosto de ter um instagram bonito, com cor e imagens que me trazem boas sensações, não quero ter um instagram que me lembre do menos bom, para quê?
No outro dia li um post da
Garance Doré que falava sobre isso e em que ela dizia que os amigos lhe ligavam e partiam do princípio que ela estava super bem graças às fotos no seu IG, quando ela tinha acabado de se separar, sair de casa, e estava a passar um mau bocado. As redes sociais não são mesmo a vida real, nunca vão ser, mas que têm grande influência na forma como os outros nos vêem, isso é certo, principalmente se os outros estão distantes fisicamente de nós.
Quando tive a trombose e falei dela por aqui, tive muitas reacções de pessoas interessadas em ajudar e preocupadas, mas também li o comentário sarcástico daquele que publica isso porque quer chamar a atenção.
É preciso peso e medida, entre o virtual e o real, é preciso desligar frequentemente o cérebro e o coração de uma máquina que não é a vida.
Mas também é preciso falar da vida, do falhanço e dos finais que não são felizes. Porque faz parte. Porque se também aqui tudo acaba bem, com os bons de um lado e os maus do outro, então mais vale mesmo ver as telenovelas, porque lá sabemos que está tudo feito para ser assim.