Nos intervalos da correria cibernética que preenche os meus dias, ando a tentar por ordem a algumas coisas cá em casa.
Há já algum tempo que herdei este louceiro (lindo!) e ainda não tinha arrumado nada lá. Nunca há tempo para nada e deixo sempre para amanhã.
Por outro lado, andava a pensar como lhe dar uma utilização diferente daquela para o qual foi concebido, mas depois pus-me a olhar bem para ele e percebi que estava feito para receber louça, tem suportes para pratos, protecções nas prateleiras, enfim, é o que é e eu gosto dele assim. Porquê tentar mudar aquilo que está bem feito?
Então, resolvi por de lado os preconceitos e dar espaço ao meu universo mulher de 60 anos.
Fui buscar o serviço de louça (aquele de família para as festas importantes que nós nunca damos, sabem? Aquele?) e arrumei-o na parte de baixo com os belos dos paninhos de linho a proteger a prateleira e depois em cima comecei a organizar a enorme colecção que tenho de louça, desde chávenas de chá, a conjuntos de café. pratos, etc, que ou eram da minha mãe ou comprei algures nas feiras de velharias (menos este prato lindo do amor perfeito que comprei nos saldos da Zara Home e que gosto tanto dele que nem tenho coragem do o usar).
Acrescentei as barras de crochet amarelo e alguns naperons que andavam perdidos nos baús e tudo começa a fazer sentido, ainda me falta muito, mas estou a gostar, mesmo!
Muitas vezes desejo fugir para uma casa de paredes impecáveis e brancas, apenas com o essencial, sem nada destes 'tarecos', mas a verdade é que no fundo eu sou mesmo assim, a vida e as suas voltas fizeram-me assim, carrego comigo muitas memórias e imagens do passado, não sou saudosista, mas tenho necessidade de congelar algumas coisas, para que nem tudo se perca na rapidez dos dias.
Às vezes sinto-me uma senhora de 60 anos, rodeada dos seus livros, pratos e imagens, a tentar relembrar coisas que a memória já perdeu.
Mas tenho 35, decoro o meu louceiro com crochet e chávenas, ao mesmo tempo que uso umas nike cor-de-rosa, e trabalho com os olhos postos no futuro e nas novidades. São os sinais dos tempos, já nada é datado, já ninguém é apenas o que parece. A moda não nos amarra mais, somos hoje, mais do que nunca uma geração livre de sentir e misturar épocas e estilos sem muitas preocupações.
Seremos esteticamente mais livres? Gosto de pensar que sim!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
olha...afinal és mais velha do que eu ...ou então eu é que já tenho 70 :)
ResponderEliminarSílvia, a minha avó dizia que a educação de uma criança começa 30 anos antes do seu nascimento. A tua estética tem, na verdade, 65 anos. És uma felizarda porque a tua vida permitiu que no desenvolvimento desse gosto não houvesse ruturas. É um contínuo. Só assim se explica o teu "comportamento".
ResponderEliminarEu, que sou assim como te descreves, sinto que o sou extamente por isso.
Felicidades no teu "empreendimento".
Ao guardarmos as peças das nossas avós e outras da geração delas, estamos, não só a perpetuar a moda da época, como também a perpetuar a memória da nossa infância. Hoje em dia é tudo tão automático, parece que o que se vê nas lojas é tudo tão direito e banal, já não transmite o amor e as horas perdidas nos labores, e as louças trabalhadas de outrora. Com muita pena minha, não quis ficar com muita coisa da minha avó porque na altura não dava o devido valor e agora dou. Por isso gosto tanto do teu blog..és como um elo de ligação entre o moderno (os tempos mudam e as vontades também..) e o antigo (há valores que nunca se deviam perder!).
ResponderEliminarTambém gosto de pensar que sim, e sem necessidade de nos negarmos aquilo que somos e que gostamos, só porque está ligada a um conceito...
ResponderEliminarParece-me bem! :)
www.hiimab.com
Adorei o louceiro!
ResponderEliminarNão acredito muito que sejamos mais livres Sílvia mas admito que é muito motivador pensar assim :). Para mim todos pensámos assim até certa idade (não sei qual e deve variar de pessoa para pessoa), fosse em que época fosse. À medida que vou crescendo tenho aprendido e descoberto que muito do que fazemos. dizemos ou achamos que sabemos é muito repetição do passado e da História com H grande. Sem querer armar ao intelectual (que não sou mesmo) se olharmos para a pintura como exemplo, ao longo dos tempos houve sempre gerações que tiveram a liberdade de mudar esteticamente algo - veja-se o caso dos impressionistas no século XIX. Não quebraram eles as regras (e de que maneira!)? Não acharam eles que estavam muito à frente? Não são eles um bom exmplo? Eram menos livres que nós? Não tenho a certeza ... Esta conversa dava pano pra mangas ... :). Bj