em explosão

13.3.11
12 de março - Porto
(fotografia original de alice bernardo)

há vários dias que leio e ouço dezenas e dezenas de comentários, posts, entrevistas, conversas sobre este acontecimento social a que deram o nome de "geração à rasca".
ora, enquanto eu estou em literal explosão física e com todas as minhas hormonas a saltar, não consigo muito bem organizar as ideias e oscilo entre a raiva em ebulição e a passividade de quem precisa de uma boa noite de sono. como essa noite já não vai ser hoje, nada melhor do que um espaço na internet aqui mesmo à espera de ser usado para dar asas a pensamentos cada vez menos organizados.

não compreendo como é que é possível que, após a mobilização de milhares de pessoas em todo o país, ainda haja gente que se concentra e preocupa apenas com a questão musical daquilo a que chamam movimento. é que já ouvi mais debates e comentários sobre a capacidade do gel em ser um líder, ou a intenção dos deolinda ao usar a palavra parvos, ou sobre um festival da canção que está há décadas adormecido do que sobre o que significa o facto de tanta gente, chamada de passiva pela história recente, levantar-se do sofá e trocar os seus comandos e telemóveis por uma simples e clara folha de papel e vir para a rua falar do que lhe vai na alma.

eu não quero com isto retirar o mérito que é devido às canções, porque foram elas e os artistas que as criaram, que ao longo de décadas inspiraram as pessoas a pensar e tantas vezes a agir. ora, o gel e o falâncio, os deolindas e os zecas afonsos, são isso mesmo...artistas! pessoas que, goste-se ou não, têm o dom de com o seu som e as suas palavras arrepiar a pele de quem os ouve, fazer rir de imagens que muitas vezes são as nossas, e juntar multidões que ao som dos seus acordes ganham um ritmo no passo e no coração. isso, para mim, é impagável.
mudam as políticas? resolvem as situações? procuram as soluções? não...mas fazem-nos tantas e tantas vezes pensar, no carro, na rua, no meio da multidão, e encontrar aquele resto de coragem que nos faz ir e fazer o que temos de fazer.

sobre o resto, que neste caso é de facto o cerne da questão, eu posso dizer que sou da geração a que chamaram de rasca, mas não estou à rasca, porque até hoje me tenho desenrascado.
o mundo mudou e aquilo que as pessoas tomavam como certo já não é mais. é difícil de um momento para o outro perceber que tudo aquilo de que nos falaram enquanto crescemos de facto já não existe para nós. isso pode ser um problema, mas também a maior das oportunidades que podemos ter para refazer o que já todos percebemos que está podre, que é este estado social da treta e um governo desgovernado.
se duas músicas podem agitar pensamentos, mobilizar pessoas, incitar à discussão e ao descontentamento aberto e assumido, então venham mais cinco, dez ou vinte.

o que eu acho que todos temos de perceber e ultrapassar é esta questão dos canudos e daquilo a que nos dão acesso. não digo que quem estuda para ter uma determinada profissão não deve aspirar a tê-la, não é isso. mas a ideia de que o estatuto faz o profissional é que está completamente errada.
cada um opta por fazer o percurso académico que mais lhe convém, ou que mais gosta, mas tem de saber por e para onde vai e assumir esse risco na sua vida. não estou de modo nenhum a defender a ideia da geração dos cinquentas anos que usam os argumentos gastos e infundados de que trabalho há muito e as pessoas não querem é fazer nada. acho que todos temos direito de procurar na nossa vida o que nos faz felizes e nos traz auto reconhecimento, seja isso ser electricista, condutor, engenheiro ou médico, não cabe a ninguém julgar o que os outros aspiram para si mesmos.
se por um lado as oportunidades de trabalho por cá estão cada vez mais escassas, ainda bem que as fronteiras estão mais abertas, que a nossa geração, mais do que qualquer outra tem a facilidade da mobilidade seja ela física ou virtual através da internet e outros meios de comunicação. hoje, mais do que nunca, temos acesso ao mundo e o mundo pode nos ver a nós. para mim, isso é precioso. se calhar, quando tiver 65 anos não vou ter uma vida descansada, mas se o meu percurso até lá chegar for feito de algo que me deu gozo construir e me fez feliz, isso vale mais do que qualquer vida atrás de uma secretária, ou na frente de uma sala de aula, a desejar todos os minutos do meu dia que tudo acabe.

sobre as várias questões políticas e sociais que esta conversa suscita não vou sequer falar, porque são demasiadas bolas para se manter no ar numa só conversa e continuar a fazer algum sentido.
eu, estou orgulhosa de todas as pessoas que saíram à rua e fizeram ecoar a sua voz, estou orgulhosa das letras e sons de músicos que conseguem arrepiar almas e mexer com as mentalidades, estou farta da hipocrisia de alguns pseudo-intelectuais que povoam a televisão e a internet e que gostam de chamar a si uma realidade que nunca experimentaram.

viva a mudança!

4 comentários:

  1. faço tuas as minhas palavras (são 3:38 da manhã e tal como tu estou em literal explosão física e com todas as minhas hormonas a saltar...mas talvez 40 semanas de gravidez ajude nisso... =) )

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  2. é isso mesmo! concordo TANTO. beijinhos e uma hora pequenina que a minha também está a chegar ... Inês.

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  3. bravo! concordo com tudo o que disseste e ontem também me senti orgulhosa de descer a avenida com tanta gente (e sem o jel!)
    as questões são muitas e complexas e é tempo é de nos pormos a pensar e a discutir!

    que corra tudo bem nesta recta final da gravidez :)

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